“Viúva, porém honesta” é uma peça escrita em 1957 por Nelson Rodrigues. Descaradamente, é assumida como farsa: ou seja, não há preocupação com a coerência dos fatos nem com a composição realista das personagens — tornando-se uma grande peça-playground que o Grupo Maltras resolveu explorar.
O argumento é, por isso só, uma afronta aos bons costumes: a filha do diretor do maior jornal do país resolve viver em luto eterno após a morte precoce do marido. Inconformado com a viuvez extrema da filha, o pai “move mundos e o diabo” para que a filha volte a ter uma vida sexual ativa.
Homossexualidade, crenças religiosas, libertinagem, prostituição entre outros assuntos estão na pauta da dramaturgia de Nelson, que ganha reforço — por vezes exagerado e púdico — do grupo em questão. Dirigida por Carol Martinni e Ivan Bonari, a montagem perde a chance de provocar seu público de forma afrontosa — e, por que não, “sexual”? —, para se apoiar no humor escrachado e imediato, como se o mais importante fosse fazer o público rir; em demérito de provocar-lhe constrangimento e excitação quanto às possibilidades de ter onde “sentar” da ninfeta antagonista.
Destaca-se a maquiagem dos atores, bem como o trabalho de Lucas Mendes (Madame Cricri) — que diante do caos que por vezes se instala na cena, consegue atrair a atenção com suas caras, bocas e comentários supostamente fora do script. Seria bom se, assim como a personagem de Madame Cricri, o público pudesse também, de forma sacal, debochada e assanhada, acompanhar as aventuras da ninfeta em busca de um homem que a satisfaça e a tire da tristeza. Quem nunca, né?