No elevador da SP Escola de Teatro rumo ao 8° andar, o diálogo entre algumas pessoas era que “O circo que fugiu” havia sido destaque no curso de Humor da mesma escola, o que despertou curiosidade e comentário de todos nos minutos que antecederam a apresentação do espetáculo. O elenco, formado por alunos do Módulo Verde, traz à cena artistas de um circo em crise, que entra em colapso quando o dono do mesmo desaparece.
Escrito por Gabriel Mesquita e Silvia Dias de Carvalho, com direção de Fabricio Rodrigues, o primeiro trabalho do Coletivo Xoxo não está preocupado apenas em fazer rir: quer mostrar que está conectado com a realidade precária da grande maioria dos artistas nacionais, enquanto o circo da ficção se torna um grande espelho do cenário cultural da cidade de São Paulo, por exemplo.
Em cena, personagens clássicos do imaginário circense subvertem o bom mocismo e são revelados em suas mazelas e necessidades. Isso faz com que o tom cômico entre o elenco varie entre o besteirol e uma comédia mais rebuscada, que não apela tanto. Esse desequilíbrio entre as composições dos artistas causam um ruído no todo, deixando a montagem irregular e frágil. Com curta duração, a montagem parece querer atingir o público de imediato, com piadas — por vezes rasas — rápidas, afeitas ao universo de sitcoms. O teatro, entretanto, cobra outro tempo: eis um fato a ser observado para que o trabalho possa crescer e ganhar estofo.
A preocupação com o tom político da montagem duela com o besteirol imposto de cara para o público, e acaba ficando solto na dramaturgia. O assassinato de Gabriel Renan da Silva Soares, em uma loja da rede Oxxo, ganha relevância no final — assim como uma crítica ao governo de Tarcísio de Freitas. Mas e o circo? E aquelas pessoas/personagens? Tudo se dissolve rapidamente deixando o todo pueril e inconsistente.
Em se pensando no humor: se de um lado, o trabalho de Luy Paini como a jornalista investigativa se sobressai positivamente, a presença da “bicha louca” que tem corpo e voz de Pedro Lima não tem função da trama a não ser reforçar clichês e estereótipos. A personagem não é engraçada, não tem função na trama e parece servir apenas de escada — ruim — para o resto do elenco.