“Não aprendi dizer adeus” [Teatro Adulto] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]
“Não aprendi dizer adeus” [Teatro Adulto] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]

“Não aprendi dizer adeus” [Teatro Adulto] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]

A morte é inerente e impalpável. A única certeza que nós temos. Diante do inevitável, a palhaça Leila, Simplesmente Leila (Bárbara Salomé), revela aos presentes que estão diante de uma mulher prestes a morrer. Essa última hora é compartilhada com todos, como que a nos dizer: e se fosse com você, o que você faria? 

Como todos, Leila é humana, e quer driblar a morte: para isso, vai se revelando falível e com caráter duvidoso. Envolve o público em suas falcatruas — pois como é de praxe na palhaçaria, quer que o outro se veja em suas mazelas. Com pitadas de “surto”, Leila vai se revelando “gente como a gente” e causando empatia, mesmo que a contragosto  — o que também é um dos artifícios do palhaço. 

Com direção de Rafaela Azevedo (a palhaça Fran, do renomado “King Kong Fran”), a montagem procura oferecer um olhar lúdico para um assunto tão delicado e complexo como a morte. Rafaela e Bárbara, portanto, navegam entre o deboche, o humor e o sentimentalismo de forma despretensiosa  — e talvez venha daí a força e potência do trabalho. 

Querendo beber e gozar, Leila, Simplesmente Leila, procura se apoiar no público para não morrer sozinha e inconformada. Tá cedo pra ela  — e, consequentemente, também para o público. Assim é a sensação que toma cada um de nós ao perder um ente querido. Esse didatismo às avessas tira um pouco a força cômica do trabalho, transformado em certos momentos numa sessão coletiva de psicodrama. Não chega a ser um demérito, é claro, mas “pesa” na encenação como um todo  — pois se sobressai no terço final. Por falar em final-final, a cena de Leila e seu vibador está entre os melhores momentos do trabalho; e a última cena, preparada ao som do público de olhos fechados, contando até vinte, é de uma beleza inquestionável. 

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