“V1ADO: ANIMAL DE PODER” [PerforMix] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]
“V1ADO: ANIMAL DE PODER” [PerforMix] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]

“V1ADO: ANIMAL DE PODER” [PerforMix] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]

Dentro da programação “SatyriBicha” havia três opções apenas. Será que a programação falhou? Não é possível que só teve esses trabalhos de “viado” nas centenas de atrações? Bom… entre elas, havia “VIADO: ANIMAL DE PODER” grafado assim em letras maiúsculas, para que não passe desapercebido no guia de programação. A performance foi apresentada numa Praça Roosevelt cheia de opções e atraiu poucos e atentos olhares. O intérprete (Luiz Costa) de forma ansiosa vai construindo sua ambientação na frente de olhares curiosos, que tinham poucos códigos para identificar o que aconteceria ali.

A sinopse divulgada dizia: Ressignificar uma palavra envolve muito esforço, principalmente quando se é alvo do adjetivo. Esta performance é um convite a pensar as violências do pejorativo e as potências da contraposição que é apropriar-se de um arquétipo como uma armadura emocional. Aqui a fuga para o inesperado é bem-vinda, lugar subjetivo compartilhado da infância Queer do artista. 

Na cena, uma garrafa de cerveja, uma vela vermelha e uma fita cassete do filme da Disney “Bambi”. Não à toa, o artista coloca um adereço/coroa na cabeça remetendo aos chifres de um cervo (ou veado, no conhecimento popular) e fita isolantes nas pontas dos pés para que seus pés se assemelhem mais as patas/casco do que a pés humanos. Estamos diante de um “viadohumanohomemmeninoquedebambivirouumveado”. Nesse deslocamento de suas memórias, provavelmente dolorida e complexa, o público se depara com o pai do intérprete, que era caçador de “veados”. Ou seja… seria o pai do artista um homofóbico de plantão? Ou apenas um caçador que não quer guerra com ninguém?

Com um ferimento no coração, supostamente disparado pelo próprio pai, o veado/viado tece então uma trajetória de narrativas em busca de validação, citando a presença de outros como ele na história da humanidade. Essa busca por iguais é uma das questões latente para a comunidade homossexual, que só se vê fortalecida entre os seus. Assim como os bichos de quatro “pés”. Do meu lado uma garota chora, impactada pela suposição de que o pai havia matado ele. Questiono ela, tentando amenizar e dizendo: “talvez não matou, só feriu”. Não adiantou. O veado/viado se afastou de nós sem explicações e porquês, como que fugindo para algum lugar que não alcançamos. Deixando a garota inconsolável. Observava eu, olhando a garota, olhando o VIADO indo embora. Pois é, talvez alguma coisa tenha sido ressignificada nessa noite. 

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