“Teto” [DramaMix] por Mariana Ferraz [@marianaferrazmf]
“Teto” [DramaMix] por Mariana Ferraz [@marianaferrazmf]

“Teto” [DramaMix] por Mariana Ferraz [@marianaferrazmf]

“Teto”, texto de Arrigo Barnabé, é a medula deste DramaMix apresentado no Auditório do Teatro Cultura Artística. Quem dá voz à linguagem do mestre é Ju Alonso, que assume a narrativa de uma mulher que discorre sobre o misticismo dos rituais de purificação, indagando-se – e propondo tal querela ao público – quanto à verdadeira eficácia de tais cerimônias ou simples métodos de limpeza para tornar o corpo menos profano, menos mundano, menos sujo.

Sentada diante de uma mesa em que se encontram apenas um côco verde, duas velas de faísca e um par de óculos escuros, Alonso quer saber se “haverá incenso suficiente para essa limpeza” – afirmando, em contrapartida, sentir-se “em irmandade com o universo por meio da sujeira”. Daí, então, a atriz trata de termos pouco convencionais mobilizados para descrever a imundície – dedicando-se a um sensível esmiuçamento da linguagem, traço recorrente no trabalho de Arrigo Barnabé –, transformando tal investigação da semântica numa espécie de devaneio surrealista.

Tendo em vista o vasto arcabouço de signos abstratos no texto, me pareceu que o formato escolhido pela atriz para trazer à ribalta o texto de Barnabé nos fez perder, em muito, a poética do material apresentado. Não que um texto prenhe de abstrações demande, necessariamente, um projeto de encenação material, é claro; mas creio que grande parte da esotérica sublime de “Teto” se perdeu devido ao escasso emprego de pausas, de silêncios, de uma modulação outra do ritmo empregado pela atriz Ju Alonso – que, ainda assim, desempenhou um ótimo trabalho. Talvez, com o uso mais recorrente dos intervalos e parênteses orais – uma vez que, no teatro, silêncios e ausências também são dramaturgia –, “Teto” pudesse ter permanecido por um tempo um pouco maior no palco do Auditório do Teatro Cultura Artística: a leitura apresentada não chegou a durar nem dez minutos, para surpresa e espanto da plateia.

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