Temos em “Olhar Agudo” o início de um projeto, e é um início promissor. Em cena o jovem ator Tato Amorim, em primeiro plano, com sua cadeira de rodas, ao fundo uma figura em penumbra, escondida atrás de um tecido verde. É Beatriz Amaro. Durante a apresentação, a figura ao fundo será antagonista de Tato, impedirá sua passagem, tentará forçá-lo a seguir pelos caminhos que ele não quer. Criando uma partitura física performativa, os corpos em cena estão realmente em um embate, representação da angústia de Tato.
Uma escolha acertada da direção de Luciana Birindelli é a limpeza estética do espaço cênico, nada mais potente dos que os corpos em cena, principalmente dentro desta proposta. Um corpo vivo que expõe sua presença em um depoimento pessoal, mas esse depoimento não se pretende ilustrativo, quer partir de metáforas, do subjetivo – ao mesmo tempo tão sólido.
Fica a curiosidade de saber para onde levarão a continuidade de sua pesquisa, que outras relações estéticas, dramatúrgicas, podem surgir. Seja de Tato com a cadeira de rodas, seja com a figura da penumbra, ela pode ganhar novas camadas? Expandir-se para outros signos? O verde será uma escolha cromática a ser problematizado com sua contraditoriedade? Esse olhar atento proposto no título pode se abrir para camadas interessantes.
Importante também pontuar a importância desse espaço aberto na 25ª Edição das Satyrianas, a Satyribilidade – que se abram mais espaços para públicos e para artistas PCD apresentarem suas obras. Para que suas criações sejam vistas, ouvidas, tocadas e continuadas.