A adaptação do texto ” O Casal Palavrakis”, de Angélica Liddell, conta com uma envolvente narrativa de suspense que escancara violências de gênero e delírios sobre infâncias sombrias. Elza e Mateo, ambos representados por pares de atores e atrizes que se intercalam, são o casal principal da trama, desenrolada em um cenário lúdico, regado de pirulitos gigantes e cores pastel.
Tudo começa a partir de um concurso de dança, entre músicas dos anos 70 e 80, onde memórias se entrelaçam e o cotidiano do casal é exposto. “O que seria de nós sem os doces” denuncia como corpos na infância são vulneráveis a violências constantes produzidas pelos pais. Em que medida somos resultado de nossos traumas de infância?
O Sr. Palavrakis personifica o machismo, o silenciamento e a opressão, ao mesmo tempo que é vítima também desse mesmo cis-tema heteropatriarcal. Ele se vê perturbado pelas próprias violências que produz contra a esposa e a filha. Os doces são símbolos, durante todo o espetáculo, das infâncias roubadas por estupros e surras – eles amenizam essa dor social.
Através de histórias sangrentas, o Casal Palavrakis nos tira de nossos lugares comuns para refletir. Esse casal é retrato de muitos casais que conhecemos – quem nunca sofreu ou conhece quem sofreu abuso dentro de casa? Necessário, pulsante, visceral. Atuações jovens e maduras em conversa corporal com o tema proposto, que começa como um sonho e termina em pesadelo.