Baseado no conto “Os Assassinatos na rua Morgue” do escritório americano Edgar Allan Poe, mãe e filha são assassinadas em sua casa, e não há sinais de arrombamento, isso faz com que os vizinhos apareçam na história opinando sobre o que poderia ter acontecido. Com direção de Gustavo Ferreira, sob supervisão de Rodolfo García Vázquez, o trabalho é resultado de um dos cursos oferecidos pelo grupo Os Satyros, o que acaba oferecendo desafios e ganhos.
Como é de praxe em qualquer obra que Rodolfo esteja envolvido, a condução das cenas coletivas e a encenação dessa “massa” e como ela se posiciona e se forma em cena, funciona e preenche o espaço. Sob a direção de Gustavo os artistas fluem com naturalidade no espaço que se torna pequeno para um elenco tão grande e a disposição atípica da plateia. Nada explica a sensação do elenco parecer espremido na composição espacial. Em tons preto e branco, o que aumenta o clima noir, os atores se dividem em muitos papéis, num esquema de jogral que enfraquece a peça quando se pensa em trabalho de composição de ator, algo pouco explorado pelo grupo Os Satyros e que consequentemente – e provavelmente – não é trabalhado pelo condutores nas oficinas.
Essa necessidade de ofertar espaço para todos, mesmo que nem todos estejam aptos a, é típico de trabalhos oriundos de cursos e oficinas. E se a referida montagem não deixa a desejar, também não oferece nenhum grande momento, no que tange o trabalho de interpretação do elenco. A surpresa positiva para “Confissões à meia luz…” é a forma como Gustavo trabalhou o tom sensual na montagem com o elenco masculino. A referência aos marinheiros do escritor francês Jean Genet em “Querelle”, obra escrita nos anos 40, foi imediata para este que vos escreve. Que a temporada traga ao referido elenco a possibilidade de descobrirem outros mistérios em cena.