“As mulheres do Pau-Brasil” [DramaMix] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]
“As mulheres do Pau-Brasil” [DramaMix] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]

“As mulheres do Pau-Brasil” [DramaMix] | por Rodolfo Lima [@ilusoesnasalaescura]

Amigas descontentes com a qualidade disponível de homens no mercado decidem criar uma loja onde se pode adquirir o homem desejado e, assim não ter que se deparar com questões do universo masculino, que convenhamos – segundo as pŕóprias – não dá mais. Mulheres conversando sobre homens de forma “despretensiosa” e colocando em pauta os desejos e anseios, parece com muitas coisas que já vimos por aí. Em algum momento, minha memória me levou para a franquia de filmes “De pernas pro ar” protagonizado por Ingrid Guimarães, que também tem uma personagem feminina em busca da emancipação sexual de outras mulheres.

O texto escrito há muitas mãos, e que foi lido dentro da programação do DramaMix não foi apresentado na íntegra, porém apresentou vários elementos que dão pistas do que o público poderia encontrar em uma possível encenação. São amigas empoderadas dos seus desejos e conhecedoras do pŕóprio corpo diante de uma cartela de homens, que elas gostaria de usar/comprar/silenciar, assim mesmo como elas são objetificadas nas mãos da “macharada”. Essa inversão de valores é boa, principalmente se a tal futura encenação subverter e arriscar colocando os homens como esse produto que pode ficar numa vitrine em exposição, e exposto aos curiosos da mesma forma que o corpo feminino é exposto e vendido em todas as mídias que conhecemos. 

A leitura dirigida por Thais de Almeida Prado, uma das autoras, ousou pouco no formato, já que há muitas cenas que precisam de recursos para serem feitas e um elenco masculino bem maior do que o apresentado. Essa suposta ousadia que a encenação sugere é o que sustenta a curiosidade do público diante de uma dramaturgia que perde fôlego no transcorrer dos fatos, já que não oferece as personagens femininas nenhum arco dramático considerável e/ou algum recurso dramático que fixe a atenção do público na narrativa a espera do próximo acontecimento.

A questão do falocentrismo é abordada na peça para se colocar em xeque justamente a importância desse protagonismo na história da sexualidade humana e no imaginário popular. Tema caro para os homens, que basicamente nunca foi abordado no teatro de forma veemente e explícita. Imagina uma plateia de bailarinas do Faustão e substitua o elenco feminino todo por homens nus: foi assim que imaginei a “Loja do Pau-Brasil” prometida na dramaturgia. A inserção da exposição da vulva no corpo de um homem trans e a possibilidade dele figurar nessa cartela de homens é uma boa provocação, que coloca o público a pensar.

A força da proposta dramatúrgica está justamente na sua subversão e despretensão. Qualquer justificativa de teorização tem que ser bem pensada. Usem sem moderação a manteiga no parceiro e depois o público lida com as consequências. Esse deveria ser o bom teatro, aquele que não antecipa uma consequência, lida com o que ocorrer dos fatos e divide com o público as reverberações. Se a peça será encenada ou não, como isso se dará na prática, ou se a caretice de outros trabalhos que revelam a visão da mulher diante do corpo do homem vai ganhar contornos na cena de forma arrojada, direta e sem escrúpulos, é outra questão. Independente do formato e do grau de risco que se corra, quem não pode faltar no elenco é a presença potente de Nathalia Lorda.

E quando na leitura foi perguntado ao público se alguém se lembrava de algum filme onde um homem é penetrado e sente prazer nisso, pensei em dizer: “Querelle” de Rainer Werner Fassbinder. O que acham?

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