Este delicado e tocante monólogo é aquele tipo de peça que partindo das vivências pessoais do performer, constroem uma narrativa que atinge o público com uma certeira identificação. Temas relacionados à infância, a relação afetuosa e conflitiva com nossos pais, a descoberta da sexualidade e a constatação de sua fluidez são abordados na peça pelo performer que parece pegar em nossas mãos e nos levar para passear pelo labirinto de suas memórias formativas.
Filho de pais surdos e mudos, o performer narra suas histórias simultaneamente em libras, exceto os momentos em que ele vai falar de sua iniciação sexual com outras crianças aos cinco anos, porque não é para a mãe dele saber.
Esse jogo entre histórias possivelmente reais e jogos de ficção, hipérboles narrativas, e ações performativas – como quando ele come uma beterraba inteira, e que é a Patampa do título – faz da peça um dos exercícios cênicos mais envolventes que eu vi no Festival até o momento. Destaco também o interessantíssimo figurino feito da sobreposição e encaixe de várias camisas brancas e um coração feito de linha vermelha onde ele guarda com todo amor sua Patampa.