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Essa foi a primeira peça que vi no dia 15/11. Não pesquisei nada sobre ela antes de assistir e, depois, precisei maturar o que experienciei para escrever este texto. Acredito que são extremamente pertinentes obras que expõem as diversas vivências de mulheres em suas relações conjugais, especialmente nas relações heterossexuais disfuncionais e abusivas. O machismo ainda é uma das maiores problemáticas de nossa era e, comprovadamente, uma das ideologias mais letais. No Brasil, os casos de feminicídio e estupro aumentaram em 2024.
Assistir a um grupo de mulheres interpretando personagens encarceradas pela legítima defesa de seus algozes é algo que mexe profundamente com o ser feminino. As narrativas são íntimas e intensas, contadas com uma certa poesia e entrelaçadas como as tramas das cordas presentes no fundo do cenário. A cenografia das cordas, aliás, funciona como um elemento metafórico: ao mesmo tempo que nos remete ao aprisionamento dessas mulheres, sugere a conexão de suas histórias, que compartilham dores, medos e resistências.
Cemitério das Mulheres Vivas é uma peça que não apenas denuncia a violência contra mulheres, mas também revela as complexidades emocionais e psicológicas enfrentadas por aquelas que sobrevivem a esse ciclo devastador. Refleti também sobre a escolha do título, que, para mim, é impactante e simbólico: ele transcende sua função de nome e se transforma em uma reflexão profunda sobre a experiência de morrer em vida. A cada agressão, as personagens são mutiladas, sobrevivendo apenas fisicamente, mas sufocadas pela violência que as consome.
A dramaturgia é inspirada em três reportagens em que Nelson Rodrigues visita o presídio feminino de Bangu em 1951, e se faz densa e multifacetada, trazendo uma narrativa que intercala momentos de brutalidade com lampejos de resistência. As falas das personagens ressoam como gritos abafados de socorro e, ao mesmo tempo, como declarações de uma força descomunal. O texto, aliado à direção precisa, constrói uma atmosfera opressiva e visceral, que convida o espectador a confrontar realidades muitas vezes ignoradas.