Não sei se já estava na dramaturgia… mas fico imaginando o André falando: “vamo começa com Alcione? – Pode Esperar – tem tudo a vê”. Pode ser minha imaginação criando coisas, sei lá… mas, acho que preciso voltar alguns capítulos.
É a primeira vez que faço parte dos Sprints Críticos nas Satyrianas, e no meu primeiro dia, em minha primeira peça recebo de presente assistir à peça “Alguém Tinha que Ceder”. Ano passado estava em cartaz como ator na mesma época que a Cia da Fachada estava no Satyros. Não consegui assistir… poderia ter conversado com o André naquele momento o que pretendo escrever a partir de agora. Para quem não sabe, André Castelani é o diretor do espetáculo, querido amigo e professor de tantas e tantos, que fez a passagem em agosto passado.
A peça se passa em uma São Paulo caótica, anos 90, era Collor, era FHC. O cenário simples, os discos de vinil me fizeram recuar para esse momento histórico. É também um momento de alta especulação imobiliária, a cidade começa a se verticalizar, e em um prédio prestes a ser demolido vive um casal, as personagens da peça, que vão discutir, se desmascarar no tempo de um dia – o prazo para o desabamento do prédio. Mas não se engane, não é uma peça de época, ela está buscando o diálogo com o que estamos vivendo neste momento (ou, o que sempre vivemos…).
A peça se propõe uma tragicomédia, mas ela passeia por diversos gêneros. A personagem Otávio, que a princípio parece um sonhador, egóico sim, mas um sonhador – algo que prezo muito ultimamente – porém o sonho vai dando espaço para o patético, o patético para o desprezível, o desprezível para a violência… e como chegamos até aqui? Essa figura ligada à família, minha casa, minha posse. Como a humanidade no filme “Não olhe para Cima”, ele não enxerga o meteoro. Já Laura é a figura trágica, a caixa de supermercados que sustenta a casa, os desejos do outro e soterra seus próprios sonhos. Quando comentei que a peça perpassa outros gêneros é porque ele flerta com o melodramático (o nome das personagens já denuncia a brincadeira), vez ou outra a patetice do Otávio é tanta que perpassa a farsa, e por fim não posso deixar de lembrar de obras da absurdidade, Cortázar, Ionesco nessa situação caótica, porém tão real. Sei que conversaria muito mais com você André… mas te agradeço pelo espetáculo e a toda as pessoas envolvidas, óbvio! Se me permite amigo, a Bruna Gabrille e o Rodrigo Fortunato são super potentes, sugeriria pensarem com carinho nas pontes entre estados emocionais de suas personagens, podem descobrir mais brilhos pra relação. Finalizo, pois me estendi, com outras palavras do André, que já usei anteriormente mas sempre vale lembrar e tenho certeza que a Cia. Da Fachada segue em luta, em cena: “estar com você na trincheira é um exercício de utopia”