“Muito Além das Águas” [Teatro Adulto/ Satyrinários] | por Mariana Ferraz [@marianaferrazmf]   
“Muito Além das Águas” [Teatro Adulto/ Satyrinários] | por Mariana Ferraz [@marianaferrazmf]   

“Muito Além das Águas” [Teatro Adulto/ Satyrinários] | por Mariana Ferraz [@marianaferrazmf]   

Levando à ribalta narrativas indígenas, e celebrando a comunhão folclórica como numa grande reunião de amigos, “Muito Além das Águas” é um espetáculo que integra a programação Satyrinários da 25ª edição do Festival Satyrianas, e que apresenta duas histórias mitológicas por meio de canções e absoluta força cênica.

Na primeira delas, tem-se uma Cunhã encantada que habita uma praia marajoara e precisa convencer alguém a quebrar o seu encanto – sobretudo, porque sem a cauda que lhe impede da realização de tantos desejos, a Cunhã poderá cumprir com o seu sonho maior: bailar o carimbó. Na segunda, uma dupla de amigos peixes se deixa seduzir pela ideia de cruzar o tal “buraco luminoso”/”misterioso” para conhecer aquilo que existe além das águas amazônicas: daí, então, descobrem a existência das frutas, das cores, de Jaci e Guaraci – a Lua e o Sol –, mas precisam decidir se desejam trocar a imortalidade dos peixes pela liberdade dos humanos. 

Mobilizando cânticos e instrumentos indígenas – bem como compostos por indumentárias e adereços simples, confeccionados à mão, precisamente de onde emana a beleza e a singeleza do trabalho –, o elenco de “Muito Além das Águas” entrega um espetáculo realmente bonito, que encanta tanto como produto cênico como também enquanto celebração ao teatro; já que o grupo, majoritariamente composto por atores e atrizes idosos, exerce com impulso e singularidade sobre a magia do fazer do palco. Destaco, com especial admiração, a atriz Gilda Vandenbrande – que também desempenha como assistente de direção do espetáculo –: subir no tablado aos oitenta anos, com tamanha vitalidade e amor, já é por si só motivo de festa. 

“Muito além das águas” é um espetáculo que vale a pena ser visto. Se bem não estamos diante de uma peça irretocável – uma vez que existem algumas questões técnicas importantes que emergem do trabalho –, adversidade alguma se faz notar diante do trabalho vitorioso e apaixonado do elenco. É, verdadeiramente, uma peça de celebração: da cultura indígena, do folclore brasileiro, de todas as gentes de teatro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *