Ontem, 16 de novembro, eu escrevi uma resenha sobre um espetáculo que partia de alguns solilóquios de obras de Shakespeare. Hoje, dia 17, assisto “Fragmentos de Nelson”. Também comentei um pouco sobre Nelson Rodrigues ao escrever sobre “O Vestido”. Diferente desta, o diretor Paulo Marcos não cria uma dramaturgia a partir do universo rodrigueano, vai direto a fonte. Foram escolhidos recortes de obras de Nelson Rodrigues, em sua maioria interpretadas em duplas. Assim como Shakespeare, Nelson Rodrigues é um prato cheio para uma jovem atriz, um jovem ator.
E aqui traço um paralelo com um depoimento pessoal, exatos 20 anos atrás, no primeiro Núcleo Experimental dos Sátiros, eu começava minha carreira profissional como ator, com um espetáculo chamado “Ensaio sobre Nelson”, coordenado por Nora Toledo que depois transformou-se em “Rua Taylor n214” dirigido por Alberto Guzik. Em um formato muito parecido, um coro de personagens ficava ao fundo das cenas, aguardando o momento de seu esquete.
Hoje com distanciamento revejo aquele espetáculo e traço convergências com “Fragmentos de Nelson”, alguns núcleos conseguem mais naturalidade na embocadura pedida na dramaturgia de Nelson, como escrevi anteriormente é tênue a linha que separa as doses de melodrama, de tragédia, de comédia. Outras acabam caindo num tom dramático mais frágil, menos apropriado. Mesmo assim é importante que se faça, Nelson é desafiador, que mais jovens atrizes e atores continuem experimentando, dando materialidade para essas personagens.