“A dona da História” [Teatro Adulto] | por Beatriz Porto [@beatrizpfg] 
“A dona da História” [Teatro Adulto] | por Beatriz Porto [@beatrizpfg] 

“A dona da História” [Teatro Adulto] | por Beatriz Porto [@beatrizpfg] 

O coro de 15 mulheres em cena, que entra todo colorido na vibe aula de ginástica, dá o tom de toda a peça, no melhor dos sentidos. Essa adaptação do texto de João Falcão coloca luz sobre um certo aspecto coletivo da busca idealizada de um amor, especialmente no que isso implica socialmente na vida de uma mulher. Relacionar-se com um homem pauta seus interesses de mundo, sua relação com o corpo, sua percepção sobre o envelhecimento, suas perspectivas de carreira.

A boa execução da cena coral é imprescindível para que possamos nos relacionar com essa ideia de que a “dona da história” poderia ser, de fato, qualquer uma de nós ali na plateia. Por boa execução quero dizer a sincronia na fala, o jogo vivo de atrizes que movimentam uma história, as discordâncias entre as figuras da coletividade, que por vezes relativizam a versão da personagem “oficial”, tornando a história mais múltipla, mais complexa.

O jogo entre as atrizes é muito prazeroso de assistir e a história chega ao público com riqueza de detalhes e de forma muito vívida. Tenho uma única ressalva sobre a peça: o tom melancólico do final fecha as possibilidades de leitura do público e vai na contramão do que a abordagem coral sugere ao longo de todo o espetáculo. É claro que isso é uma escolha do grupo. Mas a centralização da fala na personagem “oficial”, que sugere uma história quase que de superação sobre o amor e sobre finalmente ver sentido na sua experiência ao virar uma personagem de teatro, tende a subjugar outras questões que foram trazidas de forma mais contraditória e pulsante ao longo da peça a um final de cunho um pouco moralizante. As últimas cenas são sempre as mais difíceis mesmo. Ô coisa complexa que é achar o fim de uma peça (e de um texto!).

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