O texto desta leitura dramática é construído a partir das memórias e histórias de Manuel, um jovem angolano que mora aqui no Brasil a cerca de dois anos. A leitura em si apresentava ele, o Manuel, em cena, sentado, com uma roupa cinza que o deixava bastante elegante lendo as palavras do autor Rudinei Borges.
As palavras do texto geram imagens bonitas da infância de Manuel, do cotidiano da cidade de Benguela onde morava, das brincadeiras com a mãe, entre outras. Mas enquanto a leitura acontecia eu tinha dificuldade de entender algumas partes do texto por conta da pronúncia diferenciada do português. Porém houve um momento em que Manuel tirou os olhos do texto e encarou o público para explicar o que significava um determinado termo que aparecera no texto, e então tudo mudou, a mágica se fez e as imagens saltavam do corpo de Manuel de forma muito mais fluida do que nas palavras do texto. Terminada a explicação ele retomou a leitura e a dificuldade de entendimento voltou.
Quando acabou a leitura do texto, que foi breve, Manuel abriu a palavra para o público, para que esse fizesse perguntas e então mais uma vez fomos presenteados com a fluente narrativa de Manuel, seu ponto de vista sobre a situação política de seu país, seus sonhos e suas sensações de morar em uma terra estrangeira. Foi muito bonito ver essa narrativa, e me fez refletir sobre como um texto escrito por outrem, mesmo que muito bem escrito como parece ser este texto, fica vazio de imagens quando não cabe no corpo e vivências da pessoa de onde esta história parte. Foi imensamente mais imagético os momentos que Manuel falava com suas palavras do que os momentos em que ele lia uma construção textual que parece não ter ressonância com sua forma de construir narrativas.