O grupo Os Satyros, sob direção de Rodolfo Garcia Vázquez, encena a obra mais emblemática do autor espanhol Federico Garcia Lorca. Além do risco, o diretor gosta de trabalhar com elencos grandes e jovens e para atiçar seu público e dificultar os que se propõe a pensar sobre teatro ofertando desafios e opções para a compreensão de suas encenações, criou três versões. As imagens dialogam com a estética kitsch, queer, barroca. A peça, que estreou no palco do SESC 14 Bis, foi adaptada para o espaço do grupo com eficiência, tornando a peça mais intimista. Suas cenas de coro (quando um grupo de pessoas age em conjunto na cena) são sempre bem executadas, fazendo essa opção se tornar uma marca.
Se as montagens geralmente “pecam” pela ausência de composições de personagens a contento, a encenação proposta brinda o público com imagens interessantes e instigantes. Neste caso não é diferente, pois seu coro de mulheres enlutadas se impõe de forma poderosa em cena. “A casa de Bernarda Alba” foi escrita em 1936 e traz para cena Bernarda e suas cincos filhas – todas solteiras e consideradas desinteressantes pelos homens da redondeza. Além delas, a peça tem mais três personagens femininas: a avó, a criada e a governanta, La Poncia, que na versão assistida ficou a cargo de Diego Ribeiro, que compõe com muita propriedade sua personagem, se destacando positivamente do todo.
“A Casa de Bernarda Alba” reforça o sistema patriarcal e o casamento como uma das poucas possibilidades para que a mulher saia da casa da família, além de enfatizar que a velhice não é bem quista e muito menos ser feia e solteira. Afinal, para que serve uma mulher, que não para servir o homem? Numa crítica às avessas, a montagem reitera o texto do autor para provocar o público a pensar na atualidade dele e do qual refém as mulheres permanecem nesse sistema. Cabe a Bernarda se impor diante de todas para reproduzir o papel do marido que acabara de falecer. Ou seja, mesmo o universo feminino reproduz o patriarcado, na primeira oportunidade. É como uma sina. Como escapar dele?