“Fluxo” é um espetáculo vivo, ele está vibrante, presente. E não existe melhor presente em ir ao teatro do que receber isso (deveria ser o óbvio?). A peça retrata histórias da quebrada, das realidades que o elenco encontra em seu cotidiano, mas também mistura utopias e distopias, sonhos e pesadelos. O espetáculo vibra porque cada palavra do texto está sendo dita com propriedade, com jogo, com escuta. Vibra porque não é vômito, fala desenfreada, grito sem sentido… é leitura atenta do tempo que vivemos, do tempo que somos. É técnica e transformação, se o ator sobe na perna de pau não é só para se mostrar, mas está dentro de um contexto de desequilíbrio ébrio da narrativa, e depois se propõe a dançar funk com as pernas de pau é porque já está brincando com os próprios elementos de cena. E tocam piano, violão, cantam bem, afinad_s.
Alguns dos depoimentos poderiam cair num tom piegas e sentimental, mas eles não deixam cair para esse lado e resgatam um humor debochado, até de seus próprios conceitos e discussões. Não é um discurso teórico, ou aquela fala só pontua uma das lutas… “Fluxo” abarca diversas lutas e não tem medo de ser plural, aqui leio uma das potências das novas gerações, a capacidade de aglutinar linguagens e criar algo muito particular, é uma nova fase de antropofagia que estamos vivendo. E o elenco em “Fluxo” bebe dessa fase, é construtor dessa fase. Misturam o hip hop com o teatro Fórum de Boal e tudo é dito olho no olho, no corpo pintado, tatuado, o corpo que dança e que faz teatro, entra e sai do fluxo, contrafluxo, sempre contra a corrente, “sempre é bom estar contra as correntes”.