Em encenação do texto de Djalma Júnior, os atores apresentam um cenário que é uma espécie de cozinha de açougue, onde falas repetitivas e compulsórias, tiques e questionamentos aparecem a todo momento. As roupas brancas e de plástico bolha trazem um ar sensorial para a peça, que se inicia com a atriz principal se questionando sobre o fazer artístico: A arte é um conto de fadas? É uma escolha? Viver e sobreviver. Enquanto isso, o ator corta pedaços de papéis retos de forma compulsiva, assustando a moça. Ela não sabe onde está, mas ao longo da história, percebemos que se mistura com os comportamentos do moço. Em alguns minutos está vestindo o mesmo avental de açougueiro e picando os mesmo pedaços de papel, repetindo ” PEDIDOS E ESCOLHAS” a cada corte.
Existe a crítica a um tipo de mercantilização de tudo nessa obra, como o projeto de vida, os sentimentos, escolhas e principalmente a escala de produção e alienação em que vivemos. As redes sociais aparecem nos projetores como produtoras dessas escolhas inconscientes que são feitas por nós, tudo é algoritmo.
É um texto muito inteligente, porém não óbvio, denso e desconfortável. A atuação colabora para que saiamos com muitas referências, melhores atuações que vi no festival.