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O texto “Jamie Oliver”, escrito e interpretado nesta leitura cênica por Alain Fresnot, narra a história de uma mulher que, numa ligação telefônica, resolve contar a uma amiga sobre o desenvolvimento de uma estranha e bastante particular obsessão: juntar selos oferecidos numa promoção de supermercado para trocá-los por uma coleção de facas assinadas pelo chef de cozinha Jamie Oliver.
Vestindo uma espécie de camisola/chemise confeccionada pelo avô do próprio Fresnot há cerca de 60 anos, a mulher apresenta uma série de divagações, análises e reflexões sobre as facas que lhe vão sendo entregues como brindes conforme a mesma avança na obtenção dos selos: há facas que são “pequenas, mas com presença”; outras que provocam “muito vai e vem”; dentre outras qualificações que, por meio de artifícios bem humorados e inteligentíssimos, sacam risos inesperados e escancarados da plateia.
Inesperado, também, é o motivo pelo qual a mulher estava tão comprometida com a coleção de facas assinadas por Oliver – que, afinal, não conseguira concluir por ter perdido o prazo de troca da última leva de selos por brindes –: apesar de não dizê-lo explicitamente, a mulher afirma que, afinal, foi mesmo um grande alívio não ter conseguido trocar a última remessa de selos, pois “não queria envolver o Jamie Oliver num crime conjugal”.
O único defeito do texto de Alain Frasnot é ser tão curto: precisamente por ser tão envolvente e inteligente, proporcionando ao público uma experiência realmente prazerosa, é que se esperava por uma duração maior. Mas caso o autor não pretenda expandir este mesmo texto para poder levá-lo futuramente à cena, faço votos expressivos de que Jamie Oliver lance também uma coleção de cutelos, tesouras, espátulas, descascadores, moedores e outros instrumentos culinários – pois não é possível que nossa querida assassina em potencial se contente em ter apenas a série de facas do cozinheiro britânico.