O título já entrega, e não tem medo dessa antecipação, é preciso celebrar. Da luta cotidiana da população LGBTQIA+ em conquistar espaços, direitos – por vezes nem conquistar, construir – à luta para sobreviver em um mundo que anuncia climas (mais) tensos logo a frente, deve-se celebrar a resistência, a existência. Para isso o ator e autor Thiago Mendonça e o diretor e autor Renato Farias costuram eventos históricos, experiências pessoais, utilizam canções como pontes dramatúrgicas, mas não por isso sem um significado particular.
Algo inegável, e que Thiago utiliza muito bem, é seu carisma em cena, ao contar ao público descobertas pessoais do processo, ou da vida, ou dos processos da vida. Nos transporta com ele para outros espaços e tempos, e questiona: e se estivesse nesse mesmo espaço em outro tempo. Também vai costurando pequenos fetiches particulares com figuras a serem homenageadas. Nos faz rir com suas pequenas grandes descobertas e nos faz refletir o quanto nos expressamos para o outro ou só internalizamos desejos e quem realmente somos?
O ataque à boate de Stonewall, em Nova Iorque, em 28 de junho de 1969 hoje é símbolo de resistência, foi nessa data que frequentadoras/es da casa disseram não aos ataques, às violências, às propinas e revidaram, criaram barreiras de proteção contra os ataques policiais, jogaram pedras e moedas em seus algozes. A pergunta que desencadeou tudo, de uma pessoa sendo atacada por policiais: “Vocês não vão fazer nada?” segue martelando… Tanto segue que em 12 de junho de 2016 a boate Pulse na Flórida é atacada, onde morrem 50 pessoas. O quanto estamos fazendo? O quanto precisamos fazer mais? Sabemos que são muitas questões e que precisamos enfrentá-las na prática. Nós, das artes enfrentamos toda essa tempestade com sensibilidade, com ferocidade, mas buscamos um primor na troca. E com tudo isso nós celebramos, é preciso celebrar, é preciso celebrar aos aprendizados que tivemos com Phedra D. Córdoba, Marsh P. Johnson, Renato Russo e tantas e tantos.